Lembranças e planos. Despertam e entorpecem corpo e alma; envenenam a razão, e a emoção fica livre em seus devaneios, completamente aberta aos golpes da melancolia – nostálgicos sentires. É possível, e tão fácil, ter saudades das lindas lembranças... E o futuro, também não nos provoca saudade?
Sonha-se tanto com determinado objetivo, alguns planos nos são tão antigos que já se entranharam em nossa alma; são partes de nós. Por mais que nunca se houvessem concretizado, viraram lembrança tão tangível que é quase impossível negar que haja uma “nostalgia pelo futuro”. Desejo irremediável, do qual jamais desistiremos. É essa a névoa composta pelas cores e sabores que se confundem. No fim, tudo é um sonho único. Sonhar é o que desfaz todas as vãs tentativas de classificar a passagem do tempo. Sonhar é a única explicação para as asas que criamos, que nos levam além de qualquer racionalidade ligada à matéria.
E depois dos magníficos vôos, pousamos e repousamos. Então vem aquela sensação que dói no peito, que grita na alma, que comprime a mente e enregela as asas. Aquela sensação de impotência perante a névoa que se forma sobre a mente, e que se expande para todo o arredor. É a vontade de conter nas mãos do presente algo fantasmagórico, irreal, que pertence a outra dimensão, a outro padrão de existência. Nostalgia. Saudade dolorida. Nada mais deliciosamente cruel, nada mais contraditoriamente reconfortante.