terça-feira, 25 de junho de 2024

sonhos adolescentes


há muito tempo eu não sonhava com fugas intermináveis. 

novos significantes revestem velhos significados:

dessa vez eu não sou eu, e as rotas são outras,

os espaços, mais vivos,

porque há pessoas que me acolhem

enquanto adio, por milésimos de segundo,

por milímetros de espaço,

meu encontro com a radicalidade do extermínio.

qualquer decisão imprecisa é fatal. 


(um sono inquieto, é claro.

há quanto tempo ele é assim, sem que eu me dê conta?)

                                      〜⋨⋩〜

uma confluência casual de circunstâncias

e o rútilo desejo desabrocha,

nascido das trevas da fantasia juvenil:

entre pedais duplos e distorções,

embebidos no sumo dionisíaco,

meus neurônios viajam pelas espirais do tempo

entranhadas nas frestas da minha carne

- friccionada pela sua.                     

                                      〜⋨⋩〜

"por quê?", eu me pergunto, miserável,

ao despertar no solo aereárido de Saturno

depois de o poço fundo me revelar

entre suas brumas

que o rio sombrio que me trespassa

ainda é navegado 

por dois tenebrosos fantasmas:

o desencontro

e a incompreensão.






domingo, 23 de junho de 2024

porque há desejo em mim

é tudo rutilância.
o vermelho que se me desprende
lava a dor das líquidas oscilações.

mergulho no perfume de um outro
tangível, e tanto,
que me põe em dúvida
quanto a sua verossimilhança.

o desejo que nos funde
é como a rosa de infinitas pétalas
que desfolhamos, todos os dias,
nos centros de nossos peitos. 

terça-feira, 11 de junho de 2024

na parede da memória

trançávamos nossos destinos
de um jeito que, hoje,
já não mais nos reconhecemos

nova era
novas cores
novos cortes

(mas me lembro do seu cheirinho
de carne doce e macia)

quinta-feira, 6 de junho de 2024

500.000 lágrimas

algumas poucas ocultas,
a maior parte, aqui expostas,
com uma coragem besta, de quem sempre contou com
"ah, mas as pessoas nem leem, mesmo"

mas sei que algumas leem, e
obrigada por compartilharem comigo
a barra sublime e pesada da existência





sábado, 1 de junho de 2024

profundas más águas

A exaustão não é só um estado físico, concreto,
Como o corpo ofegante depois do trabalho intenso.
Como tudo o que é interiorizado e cristaliza,
Há um "não poder respirar com a alma"
Estranho familiar
Que me assola os nervos sempre que o caminho parece
Um empilhamento de encruzilhadas
Em vez de estrada reta e límpida
Caminho pelo qual se desliza
Sem ansiedades ou atritos.

(Você me deixa mais vazia do que cheia
Sempre que te encontro depois da primeira vez:
Essa para sempre perdida, nunca igualada,
Que dói como um espinho inflamado na alma
- Essa mesma que vive ofegante, à beira
  De um tipo abstrato de infarto.)


de 05 de fevereiro de 2023,
     revisado em 26 de abril de 2024,
     publicado hoje, dia de Saturno.