certo rio de janeiro é
um torso grego
em que me espalho
primeiro com medo
descosturando camadas
de tecidos ansiosos
que abafam meus histéricos
anseios
de engolir a cidade
com a boca faminta
pelo que é novantigo
notívago
um desejo frio
arrepio angustiado
ante o tanto que há
a versaberfazer
tão denso e concentrado
um atentado
contra os meus frágeis nervos
um obelisco de mármore
ao redor do qual orbito
irresistível magnetismo
opressivo campo gravitacional
que me esmaga na densidade
de sua massa erigida
no umbigo do novomundo
um cenário utópico
em que minhas fantasias aprendem a
se perder
muito, muito tempo depois
(tempo até demais)
de conseguirem se encontrar:
no espelho das vidraças
consigo mesmas
nas esquinas da ilusão
umas com as outras
uma cidade pós-apocalíptica
onde as formigas circulam
dia-e-noite, dia-a-dia
nos labirintos de alvenaria
com suas luzes infinitas
que disputam com as estrelas
estrelestroboscópicas
starlink vermelhibranco
a refletir a luz solar
como há éons faz
a lua
uma imensa sedução
aterradora visão
de suas baías e enseadas
cravejadas de berloques
de tantas décadas
séculos
resumidos na minha fissura
pela gigantesca e delicada
perna de cimento e metal
terça-feira, 6 de junho de 2023
quintíptico carioca
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