domingo, 28 de abril de 2019

raríssima nota insone #01

A luz da brasa do cigarro, penúltimo de um maço irresponsavelmente comprado e fumado, era a única luz então acesa antes que eu abrisse a tela do laptop. Me lembrou das práticas de concentração com a brasa do incenso, a penumbra da sala, a tentativa de limpar a mente apesar dos carros e motos que faziam barulho na rua movimentada atrás de mim.
Escrever veio como um consolo possível nessa noite quieta, escura, fim de um dia longuíssimo, exaustivo, cheio de emoções, lágrimas, esgotamentos. A mente não se acalma, contudo. Existem as contas a se pagar, todas elas. Mas as financeiras são as piores, porque não há compaixão que as perdoe, não há acusação que possa ser relativizada. Não há humanidade nesse brutal aspecto da vida, a necessidade de bancar os meios de vida com trabalhos que rendem muito menos do que o justo.
Entremeada à tensão já estabelecida em todos os músculos do meu corpo, a inquietude de quem sente com um coração ingênuo que ainda acredita no amor, na possibilidade de um projeto de vida conjunto, na necessidade de amar para que a vida ainda faça algum sentido.
But will love keep us alive?

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