Essa noite eu tive vários sonhos malucos
Que acabaram por culminar numa saudade muito pontual que eu tenho
Da cumplicidade e confiança que eu depositava em você
E que é a grande lástima, até hoje, da perda que eu sofri.
Sonhei que precisava me despedir de uma vida que eu amava muito
Com todas as pessoas que eu conhecia
Para partir, ir embora
Para um lugar distante, em que eu precisaria começar de novo.
(E como eu sofri e chorei essa despedida -
Como sofri e chorei despedidas reais, na mesma terrível proporção)
Quando lá cheguei, qual não foi minha surpresa:
Lá você estava
E de um estágio - não querer nem olhar para você -
Já estava eu no dia seguinte:
Dormindo nos seus braços
Sofrendo o seu desprezo
Alimentando falsas esperanças de que talvez um dia
Eu me adaptasse a esse esquema tão danoso ao meu amor-próprio.
Mas era você quem estava lá, me segurando,
Me apoiando no meu recomeçar.
E cada nova vitória foi celebrada por mim com muita alegria
E eu dançava e cantava cada rua nova que eu conhecia
Cada palavra nova aprendida da estranha língua daquele lugar
Cada possibilidade de consolidar a minha nova vida
E tudo eu queria reportar para você -
Mas com receio do que você pensaria
Da minha vontade de compartilhar a minha pura alegria.
É o meu medo constante: medo de que tenham medo de se entregar.
E isso me deixa tão, tão cansada (na vida real, inclusive).
Não há maior alegoria da minha existência atual do que esse sonho louco:
Em que eu vivo tantas vitórias pessoais
Tantas conquistas que me alegram
Tanta força que eu tive que criar para enfrentar o desconhecido
Sem ter o aval e o afago de alguém que reconhecesse o quão duro esse processo todo tem sido.
(Mas esse foi o sonho e essa é a realidade:
Cabeça erguida, coração partido,
Com medo só do que não depende de mim,
Eu sigo.)
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