[Ou 'O meu quase desejo de ser tão simbolista quanto os simbolistas'.]
A tarde púrpura findou-se, mas me presenteou com uma lua quase cheia, muito perfeitamente inserida no coração da noite azul-amarelada. Lua hipnótica, de uma solidão triste e resignada. Tão branca, quase prateada, fria e acolhedora. Tão fria como os últimos dias. Tão acolhedora quanto os braços de um sonho.
Os dias andam estranhos. As manhãs são geladas, insensíveis; as tardes esquentam-se e nos esquentam terrivelmente. À medida que a noite vai chegando, a temperatura começa a cair, paulatinamente. Assim que o sol se despede, a noite vem nos cobrir com gélido manto.
~
A noite vem caindo...
25°C. A luz prateada do sol de inverno ainda inundava as nuvens muito brancas. Trazia-me uma nostálgica sensação de paz perdida e apenas lembrada, jamais reconquistada.
23°C. Voltando de meu abrigo árcade forjado, entro novamente na cidade maldita. Os sons do tráfego começam a me afetar de maneira descomunal, a ponto de me fazerem gritar em pensamento o tão almejado ideal: "Fugere urbem!". Sonho poder um dia viver como uma pastora. Nise ou Marília, assim me poderão chamar, e nada me tirará da absoluta harmonia que conseguirei construir. [Perdendo-me nos devaneios...]
21°C. Eu sei que posso sorrir... Tragar também o doce, não apenas o amargo. Um anjo me acompanha e me ajuda a afogar as dores e as angústias. Mas logo o anjo terá que cuidar de si, e a temperatura continuará a cair, e eu sei mais ou menos o que o frio me traz.
19°C. A solidão me recorda a tristeza que pela manhã eu queria cantar, essa tristeza que de vez em quando eu posso sufocar, mas que nunca morre.
- Hoje o dia foi bonito e alegre, hoje eu consegui fugir. Encontrei um descanso muito mais eficaz do que o sono. Mas não sei... minha mente ainda não me deixa sorrir larga e completamente.
Descobri que a minha felicidade depende também de um certo tipo de amor, e esse amor não existe para mim. Logo, por mais que tudo ao meu redor esteja correto, sempre há de faltar esse detalhe. Não é apenas comigo, eu sei. Mas a constatação me entristece, "nenhuma felicidade é completa". Descobri qual a lacuna que pulsará eternamente em seu completo vazio. Vazio que doi, e não me deixa sorrir larga e completamente.
17°C. Falarei, sim, sobre a tristeza matinal. Devo cantá-la, por mais terrível que ela seja. Sinto-me repugnante por ter pensado tal coisa, mas eu preciso ser sincera comigo mesma. Expor esse desejo e ficar sujeita aos julgamentos externos me permitirá experimentar uma possível redenção. O pensamento que me envenenou a vitalidade e a dignidade foi o seguinte:
• Às vezes eu costumo pedir secretamente aos deuses que me tirem a saúde, de maneira temporária. Que não me matem, por favor, já que eu creio ainda ter esperanças de fazer minha vida ser honrada ou, no mínimo, útil. Mas é que sinto um cansaço tão profundo... Então preciso de uma desculpa para abandonar a rotina estafante e cuidar de meu corpo e minha alma. Talvez uma crise asmática forte... Por algumas semanas, um mês ou dois. Mas deveria ser-me receitada uma viagem a algum lugar de grandes altitudes, para que eu tivesse 'alívio no peso que sentia em minha respiração'. E ninguém entende! E o peso que sinto em meu coração? Por que ninguém me receita uma viagem para algum lugar lindo e distante, para que eu possa descansar completamente, sentir o vigor da natureza devolver-me a respiração dos pulmões e da alma? Sentir o vento, a brisa e a névoa, tudo isso que nos carrega em invisíveis correntes, que nos fazem querer alçar voo, sensação essencial para quem quer voltar a sonhar... E ter alguém que cuidasse de mim, não mais me sentir tão sozinha. Ser forte assim, o tempo todo, está me deixando cada vez mais fraca. Ser sozinha assim, de maneira que não posso externar o que há de profundo em mim para ninguém, não me é tão grato quanto parecia ser. Deixe-me ser frágil e delicada, pelo menos um pouco... É o que eu peço aos deuses, com a voz de um extremo desespero, com a certeza de um impossível retorno.
[...]
A madrugada chegará aos 10°C. Dormirei, e só não vou congelar porque com certeza sonharei, ainda que involuntariamente.
Sinos, véus, brisas, lírios... Meu orgulho de nefelibata, e que se danem os parnasianos.
Fugere urbem et carpe diem. Meu anseio árcade, e que se danem os modernistas, futuristas, urbanos.
Lua cheia, lua nova. Há de Amanhecer, de uma forma ou de outra.
Minha salvação contemporânea, e que se danem os conservadores pseudo-eruditos.
Eu não sei me encontrar em minhas sensações e palavras, e isso é tudo o que eu posso afirmar.
Eu estou vivendo. Talvez isso seja algo meio certo.
Estou aceitando palpites de quem imagina o que possa estar acontecendo, exatamente, comigo.
A tarde púrpura findou-se, mas me presenteou com uma lua quase cheia, muito perfeitamente inserida no coração da noite azul-amarelada. Lua hipnótica, de uma solidão triste e resignada. Tão branca, quase prateada, fria e acolhedora. Tão fria como os últimos dias. Tão acolhedora quanto os braços de um sonho.
Os dias andam estranhos. As manhãs são geladas, insensíveis; as tardes esquentam-se e nos esquentam terrivelmente. À medida que a noite vai chegando, a temperatura começa a cair, paulatinamente. Assim que o sol se despede, a noite vem nos cobrir com gélido manto.
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A noite vem caindo...
25°C. A luz prateada do sol de inverno ainda inundava as nuvens muito brancas. Trazia-me uma nostálgica sensação de paz perdida e apenas lembrada, jamais reconquistada.
23°C. Voltando de meu abrigo árcade forjado, entro novamente na cidade maldita. Os sons do tráfego começam a me afetar de maneira descomunal, a ponto de me fazerem gritar em pensamento o tão almejado ideal: "Fugere urbem!". Sonho poder um dia viver como uma pastora. Nise ou Marília, assim me poderão chamar, e nada me tirará da absoluta harmonia que conseguirei construir. [Perdendo-me nos devaneios...]
21°C. Eu sei que posso sorrir... Tragar também o doce, não apenas o amargo. Um anjo me acompanha e me ajuda a afogar as dores e as angústias. Mas logo o anjo terá que cuidar de si, e a temperatura continuará a cair, e eu sei mais ou menos o que o frio me traz.
19°C. A solidão me recorda a tristeza que pela manhã eu queria cantar, essa tristeza que de vez em quando eu posso sufocar, mas que nunca morre.
- Hoje o dia foi bonito e alegre, hoje eu consegui fugir. Encontrei um descanso muito mais eficaz do que o sono. Mas não sei... minha mente ainda não me deixa sorrir larga e completamente.
Descobri que a minha felicidade depende também de um certo tipo de amor, e esse amor não existe para mim. Logo, por mais que tudo ao meu redor esteja correto, sempre há de faltar esse detalhe. Não é apenas comigo, eu sei. Mas a constatação me entristece, "nenhuma felicidade é completa". Descobri qual a lacuna que pulsará eternamente em seu completo vazio. Vazio que doi, e não me deixa sorrir larga e completamente.
17°C. Falarei, sim, sobre a tristeza matinal. Devo cantá-la, por mais terrível que ela seja. Sinto-me repugnante por ter pensado tal coisa, mas eu preciso ser sincera comigo mesma. Expor esse desejo e ficar sujeita aos julgamentos externos me permitirá experimentar uma possível redenção. O pensamento que me envenenou a vitalidade e a dignidade foi o seguinte:
• Às vezes eu costumo pedir secretamente aos deuses que me tirem a saúde, de maneira temporária. Que não me matem, por favor, já que eu creio ainda ter esperanças de fazer minha vida ser honrada ou, no mínimo, útil. Mas é que sinto um cansaço tão profundo... Então preciso de uma desculpa para abandonar a rotina estafante e cuidar de meu corpo e minha alma. Talvez uma crise asmática forte... Por algumas semanas, um mês ou dois. Mas deveria ser-me receitada uma viagem a algum lugar de grandes altitudes, para que eu tivesse 'alívio no peso que sentia em minha respiração'. E ninguém entende! E o peso que sinto em meu coração? Por que ninguém me receita uma viagem para algum lugar lindo e distante, para que eu possa descansar completamente, sentir o vigor da natureza devolver-me a respiração dos pulmões e da alma? Sentir o vento, a brisa e a névoa, tudo isso que nos carrega em invisíveis correntes, que nos fazem querer alçar voo, sensação essencial para quem quer voltar a sonhar... E ter alguém que cuidasse de mim, não mais me sentir tão sozinha. Ser forte assim, o tempo todo, está me deixando cada vez mais fraca. Ser sozinha assim, de maneira que não posso externar o que há de profundo em mim para ninguém, não me é tão grato quanto parecia ser. Deixe-me ser frágil e delicada, pelo menos um pouco... É o que eu peço aos deuses, com a voz de um extremo desespero, com a certeza de um impossível retorno.
[...]
A madrugada chegará aos 10°C. Dormirei, e só não vou congelar porque com certeza sonharei, ainda que involuntariamente.
Sinos, véus, brisas, lírios... Meu orgulho de nefelibata, e que se danem os parnasianos.
Fugere urbem et carpe diem. Meu anseio árcade, e que se danem os modernistas, futuristas, urbanos.
Lua cheia, lua nova. Há de Amanhecer, de uma forma ou de outra.
Minha salvação contemporânea, e que se danem os conservadores pseudo-eruditos.
Eu não sei me encontrar em minhas sensações e palavras, e isso é tudo o que eu posso afirmar.
Eu estou vivendo. Talvez isso seja algo meio certo.
Estou aceitando palpites de quem imagina o que possa estar acontecendo, exatamente, comigo.
Chorei.
ResponderExcluir*Ao som se Sé Lest, Sigur*
Chorei[2] mais litros que o Dan... rsrs
ResponderExcluirAplausos estão muito fora de moda? Uma salva de palmas pro quão brilhante você é. Impressionante. Acho que eu não tô bem...O.O
Parabéns, de verdade!! ^^
E obrigado pelo comentário no meu blog. Espero que a gente se visite mais... ;P
bJ'
Fernando
Que lindo, que puro. Mããããssss, eirmã, você é muito romântica pra ser simbolista. ^^
ResponderExcluirEu amo você, e apesar de estarmos sozinhos estamos juntos <3
Pense nisso XD
(L)
;bem bucólica vc!
ResponderExcluirhihi
bon texto
um pouco extenso... mas quem sou eu pra falar? :P
vivo com textos enormes
kkk
parabéns
visite
http://lisems.blogspot.com/