sábado, 9 de maio de 2009

In the cold light of morning.



Às vezes algumas coisas cotidianas me pegam desprevenida. Surpreendem-me de tal forma que fico atordoada – como a rotina, a cinzenta e monótona rotina, pode ter seus instantes de magia? [Fica aqui a minha esperança subentendida – tão difícil conquistá-la!]
Ainda que as ruas da minha cidade pareçam o ambiente mais inóspito para que tesouros floresçam, minha caminhada por elas acaba me revelando alguns desses simples tesouros...
Sempre há uma cor diferente, criada pela luz dourada de uma manhã quente, ou pela atmosfera azulada da manhã fria. Alguma furtiva brisa, tentando me ensinar a tirar os pés do chão, acalentando o meu cansaço. Alguma estrela perdida, surgida no final da tarde, apressada demais para esperar a noite chegar – ansiosa por mostrar seu brilho.
Ou há alguma flor amarela pendendo de um muro inexplicavelmente não-estéril. Algum arbusto verde lançando seus galhos ao céu, comunicando-se com a luz e o infinito, ensinando como alcançar a verdadeira sabedoria. Ou os morros, que sobem indefinidamente, escondendo horizontes que nos convidam a aventuras, imaginárias ou não.
Ou há o olhar de uma criança, interrogador, curioso, vivo, me encarando. Uma hipnose, praticamente. A pureza da criança me pedindo que eu a explique o que é aquele mundo que ela vê. E a única coisa que posso fazer é sorrir – e, assim, tentar dizer a ela sobre o que há de mais sublime nesse lugar tão estranho, tão cheio de mistérios e significados misturados.
É que eu sou persistente, embora não pareça. Ainda não desisti de encontrar a poesia do cotidiano, de entender nas entrelinhas da vida os seus verdadeiros encantos. Não parei de buscar a beleza de estar viva, apesar de um ou outro sentimento me incitar a desistir de tudo. Apesar de todas as máculas, de todas as dores, de todas as dúvidas e confusões, os instantes de magia que a rotina esconde – mas, felizmente, por vezes revela – não me permitem virar as costas para o mais supremo tesouro, para a mais generosa dádiva: a vida.

4 comentários:

  1. ".. os instantes de magia que a rotina esconde – mas, felizmente, por vezes revela".
    Tão verdade.
    E inspiro-me e orgulho-me muito de vossa poesia, subrinha :) maltratada, como todas, mas realmente inata. E muito bela.

    Adorei os comentários, aliás x3~
    Obrigada pelas palavras :D
    Amo-te muito também ._____.
    Muito muito.

    :*

    ResponderExcluir
  2. Se eu falar que ando pensando em usar esse título num texto você acredita? E se eu te falar que eu tenho essa foto que você usou? Sim, eu sei que você acredita. ^^

    Gêma, gêma... Que texto lindo! Ele é a manifestação das coisas que ficam passando pela minha cabeça quando ando na rua procurando, ou não, algo a mais no dia, na rotina, como você disse. E é incrível que sempre, SEMPRE, há de se encontrar alguma coisa. E uma das mais revigorantes, misteriosas, e hipnotizantes, é o olhar de uma criança. Elas olham o mundo como se cada coisa tivesse um mistério e carregasse algo de incrível, e de fato isso é a mais pura verdade, só que vamos esquecendo com o tempo. Ainda bem que existem pessoas que insistem em manter a infantil idade dos "por ques", que de infantil não há nada, há sabedoria, isso sim.

    [Ouvindo Sunday Smile, Beirut]

    Amo-te³³³³³³³³³³³³³|

    ResponderExcluir
  3. "Num mundo de crianças, o maior crime seria mostrar a língua, ou talvez algum gesto obsceno"
    Talvez a beleza não seja a vida em si, mas a inocência...
    Mas a felicidade não está apenas nas crianças...
    Crianças magicamente também me fazem sorrir. Tenho vontade de aperta-las.
    Quero filhos!
    Como sempre, um lindo texto May.
    :*

    ResponderExcluir
  4. Belíssimo,para variar um pouco né irmã?!
    (L)

    ResponderExcluir

:)