Antes eu sabia de Deus, mas não sabia como me encontrar com Ele. Ele se me figurava mui nebulosamente; sei lá. Ele fazia parte da minha criação católica, apenas.
Passei por um período muito estranho, então. Cheguei mesmo à beira da negação, da descrença no divino. Como se Ele não fizesse muito sentido. Então tudo escureceu, passei a simplesmente existir - quase negar Deus me fez quase negar a vida.
Cansada da escuridão, lancei-me a um inexplicável panteísmo, carente de firmeza, tão nebuloso quanto a visão de outrora... O que me rendeu certos olhares de repreensão. Não me importei. Eu buscava o meu Deus em tudo que fazia parte do dia-a-dia, eu precisava me alentar, de alguma forma. Mas não parecia o suficiente - eu voltei a ter consciência d'Ele, mas não conseguia d'Ele me aproximar.
Então, num dia ocioso de um Julho remoto, eu entrei numa casa antiga, simples, em que se rezava com os braços em movimento, em que me diziam que Deus está em tudo porque tudo é vivo, e tudo o que é vivo tem Deus. Disseram-me que não havia nada que mais me aproximaria de Deus do que o serviço, o trabalho, o bom humor, a alegria, o amor. Fizeram-me entender o que queria dizer o 'conhece-te a ti mesmo, e conhecerás os Deuses e o Universo'. Ensinaram-me sobre o concreto e o sublime, sobre a alma, seus mistérios e encantos. Ensinaram-me que este mundo não é o que há de perfeito, e que eu não preciso me mortificar de culpa cristã por não ser perfeita. Os ensinamentos não cessam... Tanta coisa aprendi, e tanta coisa ainda há a ser aprendida!
Mas o fundamental... Ah! O tormento fundamental, este já está solucionado. Eu finalmente encontrei Deus. Disseram-me que eu não precisava procurar Deus apenas do lado de fora, porque havia Deus em tudo e havia Deus dentro de mim - e isso me basta para querer continuar nessa incrível existência, a qual podemos coroar, por nossas próprias mãos, com o maravilhoso milagre da Vida.