teve o dia em que descobrimos coletivamente
o que era uma açucena
e seu colo confortável e macio
em que a noite carrega o dia
"dias de luta, dias de glória
(já diria o poeta)
hoje foi um dia de quê?
-- Glória!
Amém, irmãos!"
"professora,
hoje foi dia de luta ou dia de glória?"
meu querido, nem sempre vamos conseguir o glorioso.
alguns dias são de luta árdua, sem refresco.
mas estaremos sempre com a glória
nos nossos horizontes.
Everything's inside.
sábado, 9 de novembro de 2024
falando em flores
sexta-feira, 8 de novembro de 2024
a dor e a beleza
a gravidade e a graça
pensei que sondar a dor me livraria dela,
me deixaria um passo à frente,
como já me disse alguma psiconauta,
minhas curandeiras
há um intercâmbio de flores
entre mim e as jovens pupilas:
se o horror do mundo é flagrante,
ignorar a delicadeza é um gesto suicida.
eu gritei
quis morrer
mas eis-me viva, ainda.
still I rise,
às vezes tão contra
minha disposição natural
algumas esperanças minhas dormem
como quem desistiu da vida
outras estão meio lá, meio cá,
conversando comigo de cantinho
escondidas atrás do armário de metal
outras estão na fileira lateral,
encostadas na parede da janela
fazendo suas caprichadas anotações
no caderno de produção textual
domingo, 3 de novembro de 2024
se, um dia
Talvez entendamos melhor a gravidade de ser quem somos: as amarras que nos prendem às necessidades cotidianas, os planos de um crescimento financeiro que signifique crescimento individual e ponto, porque essa é a nossa ontologia.
A graça de ser quem somos se dá no reconhecimento dos contornos que delimitam o nosso vazio, esse abismo que, se ignorado, toma o poder sobre nós e nos obriga aos vícios... Respostas possíveis à pergunta que o vazio permanentemente nos coloca e que, se não nos entregamos a ele, somos incapazes de responder de outra forma.
Fui colocada em xeque, e tantas coisas desmoronaram ao redor da minha autopercepção que não sei o quanto de mim restará dessa passada em revista. Isso é estar sensivelmente aberta ao outro - mas eu deveria conseguir mensurar melhor seus efeitos, para que a vida exterior não signifique vida ou morte sempre que eu preciso me aventurar fora de mim.
As relações humanas são cheias de nuances, e as mágoas falam bem por mim há muito tempo. Na barra lateral, explore o arquivo: você vai perceber o que é isso que digo de forma vaga e confusa. Não me importo.
Deixo, aqui, um fragmento dos manuscritos:
02/11 - dia de lembrar a morte no livro de mágoas
Vocês gostam que eu seja baluarte de um mundo novo. Devem achar graça no meu otimismo, esse mesmo que os inspira, alimenta, permite acessar aquela luz bruxuleante no fundo da caixa de Pandora, a esperança. Quase não creem que ainda haja alguém a quem o cinismo não tenha conseguido de todo corromper. Alguns, de tão incrédulos, tornam-se até detratores: o que fazer com a beleza diante do horror do mundo? Como se fosse a lei do horror o correto. Como se houvesse "correto".
Os que não se escandalizam com a nudez da minha sinceridade olham para ela com malícia, calculando a forma correta de extrair o máximo sem que eu (ingênua!) perceba que há poucos dispostos a retribuir - o mínimo. Acontece que não só de um otimismo tolo vive um coração que anseia pela verdade, palavra estilhaçada em inúteis fragmentos que eu vivo a tentar reconstituir.
Vocês acham graça do/no meu esforço. Apreciam que eu mate a cobra e mostre o pau - rindo, apontam entre si para o ninho, que o otimismo não me permite enxergar. Minto: eu não enxergo porque não quero: acho melhor não me concentrar nele. Mas talvez deva repensar essa decisão.
Não pensem que não sei do escárnio que corre ao fundo de suas despretensiosas investidas e minhas generosas respostas. Não pensem que eu não serei corajosa o suficiente para tomar a decisão que meu coração ingênuo apontar, quando for a hora. Não serei a primeira a fazer isso, afinal.
sábado, 26 de outubro de 2024
de idiota a desprezível
sem meio termo
(ouvi dizerem sobre a balança:
parece que há um equilíbrio
quando há uma tonelada exata
em cada prato
mas uma única pena
em um único lado
e...)
sobre frutos
o primeiro, a paixão
a segunda, a convicção do amor
o terceiro, a desilusão
danço eu, dança você
etc
pagamos o mesmo preço, todes:
não há garantia de nada
quando escolhemos dar
o salto no escuro