quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

As cores [introdução]

Esse é um projeto sem maiores pretensões. Espero conseguir continuá-lo.

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Ela gostava de pintar as unhas.

Era sua maneira de mostrar-se, ou de ser quem preferisse. Ela podia ser quem quisesse... Vibrante ou neutra, alegre ou melancólica. Suas cores a definiam, e dessa forma ela finalmente conseguiu se expressar – depois de muito tempo insistindo, em vão, em outras formas de fazer-se entender.

Ela tropeçava nas palavras. Sua escrita era confusa, sua fala era instável. Seus olhos fugiam involuntariamente dos outros olhares, sempre... Seus gestos eram às vezes vagos, às vezes rudes. Depois de tantas más interpretações, ela encontrou um mecanismo de permitir que os outros a percebessem corretamente.

E não sabia exatamente por que queria que os outros a entendessem. Havia qualquer coisa de carência ou necessidade de se comunicar de maneira limpa com o mundo que não a compreendia. Ou talvez só quisesse que alguém compartilhasse com ela os seus sentimentos, tão vastos, tão aprisionados.

Ela geralmente preferia as cores fortes e brilhantes. Não gostava de ser triste... Apesar de possuir uma interrogação estranha, inexplicável e indelével que a sufocava. Mas preferia suprimir tal interrogação – a vida a pedia que fosse otimista. Do contrário, tudo seria deveras e insuportavelmente cinzento.

No entanto... Nos últimos tempos, vem pintando as unhas de negro profundo. Ou a interrogação se descontrolou e a invadiu por completo, ou a vida se lhe parecia realmente cinzenta... Ela não sabia explicar. Não adiantava que a perguntassem, se a pergunta estava dentro dela mesma, inclusive. Ela sabia que doía, apenas, e não encontrava a causa da dor. Por isso o preto, no qual ela mergulhava... Talvez para se esconder, mais do que para se mostrar.

E vivia uma rotina que a pedia para sorrir, para andar, para respirar, e ela fazia tudo isso, mas sempre com um peso. E não adiantava que tentasse viver levemente, não adiantava que desejasse isso... Ela não aprendeu a querer viver levemente, porque não acreditava que sua interrogação tivesse uma resposta. E assim mantinha o seu luto discreto, por tudo que perdia em função do peso que não a deixava viver plenamente.

Houve um fator que desencadeasse tal luto, que bloqueasse os matizes que tornavam sua vida menos monocromática. Talvez ele fosse relevante... Se não possuísse consequências mais eminentes do que a causa. Ela era intensa em seus sentimentos vastos. Uma simples frustração poderia fazê-la fechar-se para a vida, e mergulhar em sensações que a levassem para longe da realidade. Ela era mestra em fugir, e o que a marcava era a contradição entre o querer mostrar-se ao mundo e o querer fugir da realidade. Talvez ela fosse uma insana com manias excêntricas. Talvez ela fosse uma alegoria para mostrar os conflitos de muitas pessoas que andam por aí, perdidas ou não. Talvez, talvez. Ou ela era simplesmente um devaneio, fruto de uma noite tediosa e triste.

Ou talvez ela queira dizer algo... Algo maior do que sua necessidade de expor os sentimentos. Algo que está muito além das cores de esmaltes que ela escolhe, além do seu luto inexplicável, além da sua interrogação inefável. Algo que estava perfeitamente descrito no amarelo-nascer-do-sol que ela usou nas pontas dos dedos em certa ocasião que oportunamente será narrada.




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Um comentário:

  1. ainda tô esperando pra saber por que de ela voltar ao amarelo (: tô MUITO curioso!

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:)