segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Because I want you ~ but now it's raining!


Lá fora chovia o mundo e eu estava lá dentro, dos cobertores e de mim mesma. Havia acabado de acordar... E quase dormia de novo. Mas a chuva forte não deixava, não me deixava... E por que havia eu de me preocupar com isso?
De repente senti algo na garganta, que tanto podia ser um suspiro aflito ou um grito reprimido. De onde veio, isso eu não sei. Gritar seria tão vão, dado que ninguém me poderia escutar! E porque eu quereria suspirar? Há tanto tempo já não sei o que é um suspiro verdadeiro...
Agitei-me, e o sono foi embora.
"Como será que ele está?" - uma voz mental me sussurrou...
Então lembrei-me de uma voz real a me dizer coisas loucas, certas verdades cruéis e umas palavras de gracejo e de afeto. Lembrei... De algo que não me deveria lembrar. Porque isso certamente suscitaria suspiros... E ainda tenho medo de que meu peito, deveras fragilizado, se rasgue ao ser arrebatado por emoções muito fortes.
Mas o coração doeu e minha garganta foi tomada por um nó indissolúvel. Droga. As emoções fortes parecem querer me dominar de novo.
Comecei a imaginar.. E então fui longe. Longe demais para que eu conseguisse me reencontrar instantaneamente - para que conseguisse me reencontrar, na verdade. Percebi que não quero mais ir sozinha nessa jornada. Então descobri o porquê desse nó estranho, soube por que me preocupava com a chuva.
Eu não quero... não quero que ele se aflija por nada. Nem por uma simples chuva.


[...]

Mas acho que ainda me falta [muita] coragem.

- Fica essa frase para deixar a incógnita pairando no ar. Dê a ela o sentido que quiser.
Beijos.

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[69]

"Chove muito, mais, sempre mais... Há como que uma coisa que vai desabar no exterior negro...
Todo o amontoado irregular e montanhoso da cidade parece-me hoje uma planície, uma planície de chuva. Por onde quer que alongue os olhos tudo é cor de chuva, negro pálido. Tenho sensações estranhas, todas elas frias. Ora me parece que a paisagem essencial é bruma, e que as casas são a bruma que a vela.
Uma espécie de anteneurose do que serei quando já não for gela-me corpo e alma. Uma como que lembrança da minha morte futura arrepia-me de dentro. Numa névoa de intuição, sinto-me, matéria morta, caído na chuva, gemido pelo vento. E o frio do que não sentirei morde o coração atual."

Fernando Pessoa [Bernardo Soares] ~Do Livro do Desassossego.

Um comentário:

  1. Muito Lindo!!!
    Seus textos são realmente fantásticos, as vezes sinto como se escutassem eles dentro de mim, e acho q esse é o motivo de vc ser tão boa! pQ vc capta oq as pessoas sentem e transforma em palavras.

    nunca abandone tão enorme talento.
    Beijoz

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