quinta-feira, 2 de julho de 2009

Mais um dia.

Meu corpo fatigado arrasta-se cidade afora, consolado apenas pela leve brisa de uma chuva que se anuncia e nunca aparece. A noite vem alta, implacável, para acentuar ainda mais o cansaço que me pesa terrivelmente os braços, as pernas, a cabeça. Sinto como se meu corpo fosse se desfazendo, se desmanchando, deixando seus pequenos pedaços pela calçada. Nem mesmo a bela e brilhante lua crescente me serve de apoio - eu preciso, insanamente, descansar.

Chego em casa e nada melhora. Percebo que meu cansaço não é apenas físico - minha mente também está exaurida de suas forças. Os pensamentos circulares, as mil e uma tarefas a serem executadas, todas as preocupações e paranoias do cotidiano... Tudo isso me deposita silenciosamente terríveis cargas imaginárias nos ombros, as quais pesam tanto quanto cargas verdadeiras.

A irresponsabilidade é um ingrediente a mais - significativo, decerto - no indigesto banquete que preparei para me servir da vida. Sei das culpas e pecados que o meu total descompromisso com a vida pode gerar. Eu simplesmente não sei como me importar, no entanto.

Vergonha. Sinto uma vergonha constante de tudo ao meu redor. Como se todo o mundo me fosse engolir, castigo para o crime da minha incompreensão para com tudo. Meus erros baseiam-se nos preconceitos, nos desvarios e no mau-comportamento. Não, eu não sei me portar decentemente. Todos os meus gestos são exagerados e errôneos, sou uma desajeitada a derrubar todos os finos cristais das verdades existenciais, a me enrolar nos ardilosos fios das furtivas mentiras e dos grandes vícios. Tudo perde o sentido em minhas mãos destrutivas. E por mais que eu saiba de tudo isso, eu afirmo sem medo de ser dissimulada: não é intencional. Eu nunca quis prejudicar qualquer aspecto da minha vida, ou de qualquer outro ser. Mas as coisas desandam, desacontecem quando eu estou por perto.

E sei que minha auto-depreciação vem, em grande parte, desse cansaço físico, mental e espiritual pelo qual estou passando, com tantas perdas e danos. A falta de qualquer significado para a minha existência faz crescer o meu desânimo, como se respirar fosse um imenso fardo. Mas eu ainda sou suficientemente covarde [ou, talvez debalde, esperançosa], e quero continuar viva, e morro de medo da morte. Morro de medo da morte.

Hoje a minha simulação de morte alimentou uma incongruente neurose. Senti a morte espreitanto-me mui delicadamente na situação cômica do dia-a-dia, arrepio frio e macabro onde deveria haver apenas um calor de vida despreocupada. O cansaço está, realmente, destruindo as minhas mais variadas formas de defesa.

Talvez eu esteja mesmo me fragilizando, adquirindo aquilo que um dia clamei tão desesperada aos céus. Mas estou obtendo êxitos incompletos: onde está o alguém que me deveria oferecer todos os cuidados de corpo e alma, para que eu finalmente possa descansar ainda em vida? Mais um aspecto torto, desandado nessa minha estranha existência. Peço uma enfermidade, veja que loucura. Enferma, padeço uma vez mais pelos meus erros, pela minha irracionalidade, e não há um alguém que me afague os cabelos delicadamente e me diga que a tormenta, por mais eterna que pareça, um dia há de acabar. Eu não consigo acreditar que esse meu constante horror acabará. Mas sei que não posso continuar nesse ciclo vicioso, que é deveras destrutivo. Quando hei de encontrar a solução para esse festival de estranhezas malignas?

2 comentários:

  1. Eu me impressiono! É praticamente tudo o que eu quero desabafar às vezes... "sem medo de ser dissimulado": chego a me emocionar quando leio seus textos. Na perspectiva parca do ser que escreve, a senhorita tem futuro! ^^

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  2. Pois lhe entendo - por mais inútil que isso seja. E nossa, como realmente faz falta alguém que diga que uma hora essas tormentas passam. Sendo que a nossa distância é algo que faz crescer as dores. Por que não poderíamos estar juntas?

    No mais, te amo.

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:)