segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Leia apenas se tiver plena certeza do que está fazendo; não recomendo esses meus devaneios a ninguém.

Às vezes é só tristeza, mas dessa vez está doendo de verdade. Dessa vez eu tive real vontade de me acabar: em lágrimas, em gritos, em um mau humor intransponível, em um desespero mudo, em um imenso descaso para com as minhas responsabilidades, em uma absoluta indiferença por tudo o que é vivo. Dessa vez eu quis desaparecer por completo, desfazer-me como vapor que se dissolve na atmosfera; não deixar um rastro sequer, uma sombra sequer, qualquer vestígio que lembre aos que respiram a minha infame existência.
Às vezes é depressão, doença que se cura com remédios como qualquer outra. Como essa maldita doença que me tira o ar; asma. Mas eu sempre tive asma, eu nunca respirei. Meu corpo e minha alma nunca respiraram, verdadeiramente. Sufocada, sempre, pela asma do corpo e da alma; completamente sem remédio. Igual a essa minha depressão, a qual a impiedade chamou ‘conveniente’ – eu não tenho remédio algum. Não me deixam querer ter remédios concretos e, imagine, eu estou recusando os remédios imateriais. Pura burrice minha. Pura intransigência, ignorância, mau humor genuíno. Pura vontade de permanecer mal, porque isso parece bonito. Porque, talvez, as pessoas parem de rir da minha cara de idiota boazinha.
No mais, creio querer morrer, ainda. Mas isso vai passar, porque eu sei que estou com os meus instintos descontrolados.
E eu escrevo essas linhas apertadas em letras mínimas, todas tímidas, amedrontadas, porque elas concretizam o meu estado de espírito. Diminuto, pequeno, acuado. Completamente covarde.
Não quero que ninguém entenda minhas elucubrações perdidas. Na verdade, nem sei o porquê de estar escrevendo; não quero que ninguém se infecte com essa maldição que se derramou sobre mim. Mas dói, e guardar a dor está mais do que insustentável.

Noite horrenda, amaldiçoada seja! Foi ela que desencadeou todo o meu processo de martírio, desde a imersão no submundo da personalidade das pessoas até a afronta que fiz aos que me amam. Uma coisa está diretamente ligada à outra, enfim.
O cheiro doce e sufocante do cigarro ainda está entranhado nas minhas narinas e nas roupas que, por hora, não consegui lavar secretamente. Esse cheiro, inebriante e insuportável, conseguiu fazer com que a minha falta de ar e de lucidez se agravassem; eu estou doente, de corpo e alma, por tudo o que ele representa, concretamente ou não.
As pessoas se acabando ao meu redor me fizeram ainda mais debilitada. Os dementes que me roubavam os insensatos argumentos noturnos sugaram minhas energias escassas. Aquele que não faz idéia alguma de mim [e que me confessou isso com os requintes da mais inimaginável crueldade] está feliz, e eu estou triste. Mas nem é isso que acaba comigo. Na verdade, eu quero mais é que ele se consuma naquela vida medíocre que leva. Engraçado, eu até tinha algum apreço por ele. Nem sei mais o que é que ele me desperta. Mas isso não vem ao caso, enfim. Eu estou em uma profunda repulsa das pessoas, de maneira geral. Eu não quero sair de casa, eu não quero sair da cama, eu não quero que meu corpo esteja desperto. Eu só quero dormir, dormir, e conto as horas para que as noites de sono cheguem logo. E cada segundo se arrasta, e eu estou numa enorme impaciência perante a vida e um imensurável desespero de permanecer pseudo-respirando. Não posso acabar com isso de uma vez? Dê-me um cigarro para que eu o fume compulsivamente, e outro e mais outro, e me deixe acabar logo com essa tortura de existir na concretização da vil matéria.
E não é só isso. Não são só as pessoas que me ignoram; há também as pessoas que me incomodaram. Os beijos inconvenientes que ainda me ferem os lábios, os braços que me puxaram para um enlace que eu rejeito, abomino, tenho verdadeiro asco; tudo ainda me envergonha, me deixa constrita na lembrança que eu quero apagar e que me aperta, mais e mais, e me envolve com inúmeros tentáculos. Não estou mais conseguindo reagir com a minha indiferença impaciente. E ninguém sequer pensa na minha existência. Foda-se, eu não quero pensar na existência de ninguém, também. Eu não quero pensar em nada.
E ainda tenho, também, a terrível recordação de meus irmãos e minha mãe, sentados à minha frente, ouvindo os meus lamentos, os meus gritos, a minha irracionalidade, o meu absoluto desespero sem fundamentos, os meus julgamentos indignos, a minha aspereza e o meu rigor. Eu sou uma estúpida completa. Acabei-me em lágrimas ridículas, e me sinto agredida por mim mesma. Sinto-me imutavelmente inerte, como se todo o mundo houvesse despencado sobre mim e me impossibilitasse de mover-me por conta própria – eternamente. Todo o peso do mundo falho e inconstante da minha personalidade esmagou os meus sentidos, destruiu-os, e eu não vou me recuperar jamais. Mas a verdade é que eu mereço tudo isso. Eu mereço ser castigada com as palavras mais cruéis, com os golpes mais baixos, porque eu sou medíocre e cruel.
E eu vou fazer drama, sim, e não estou preocupada com nada porque, FODA-SE, eu não vou pensar em mais nada agora. Eu vou ser egoísta a meu bel-prazer, e vou fazer todo o drama que existir porque não dá para ser trágica, porque eu não sei ser ainda mais trágica, porque eu sou uma pretensiosa que acha que tem capacidade de traduzir sentimentos por palavras, mas isso é pura arrogância minha. Porque eu sou incapaz em tudo o que há na vida, completa e plenamente incapaz, e essa é a minha verdade incontestável.

A quem leu isso, perdoe-me. Eu fui extremamente estúpida – mais uma vez. É que eu não podia guardar todo esse sentimento ruim em mim, por mais que isso não seja uma desculpa para ser tão ignorante e indelicada.
É que a minha alma está muito triste. Pelos últimos acontecimentos – agressões massivas a ela – e por aquela outra angústia, indizível sentir.
Por carência minha - ou não - eu preciso de um abraço. De uma palavra amena. De algo que me faça esquecer a terrível condição em que me encontro. Algo que me faça, mais uma vez, despertar a alma. Porque minhas defesas foram – e estão sendo – impiedosamente atacadas. Eu estou fraquíssima. E eu pensei estar mudando. Infelizmente, as coisas não são como a gente espera; é o que dizem. Fique com a frase clichê para terminar. Eu não sou capaz de ir muito além disso.

3 comentários:

  1. eu estou preocupado com você, queria poder te ajudar, mas acho que você não iria se abrir... eu já me senti como você várias vezes, mas eu nunca conseguiria expressar isso em palavras de uma maneira tão profunda
    bzOO

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Após ler fiquei impactado por alguns minutos e pensando o quanto seria bom se eu tivesse o poder, de com as palavras desse comentário, aliviar a dor que você sente. Infelizmente (e isso me dói) eu não tenho.
    Mas você escolheu uma ótima maneira de esvair sua dor. Foi tão intenso que tenho certeza que parte dessa dor transformou-se em suspiro após o último ponto. Pelo menos é assim comigo.
    Você é uma pessoa magnífica, Mayara. Eu sei o quanto é fácil se desencantar com o mundo, mas não coloque em você a culpa de tamanho descabimento e mediocridade desse mundo. Você é maior e tenho certeza que existem pessoas maiores por aí também. =)

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:)