segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Fragmento de uma reflexão feita em um dia que choveu e que eu me recusei a ver a chuva.


O que mais me assusta na minha condição atual é a extrema lucidez com que avalio minhas tristezas e dores. Isso deve ser um grau de loucura, talvez.
Não que eu não as sinta. É que elas já são parte de mim de tal maneira que aprendi a entendê-las com uma visão distinta, separada. Elas não são mais apenas emoções - são sentimentos inerentes a mim, os quais eu criei e dei certa independência. São como filhas, as quais eu compreendo em sua fase de expansão e tomada de consciência própria. Tem uma concretização um tanto quanto incomum; alguns podem achar isso ruim. Eu acho, no mínimo, confuso.


Puríssimo racionalismo da minha parte, algo que realmente não me caracterizava. Mas eu sempre tive um excesso de sentimentalismo; sem saber o que fazer com ele - por não ter nenhuma possibilidade de libertá-lo -, fui perscrutá-lo, dissecá-lo, conhecê-lo profundamente em suas misteriosas entranhas. Então, comecei a enxergá-lo com outros olhos, olhos analíticos. E por mais que eu não goste muito bem do que veja - até por não entender direito - eu simplesmente não consigo livrar-me dessas correntes que me prendem ao passado. Eu consigo chorar consciente de minhas lágrimas; eu vejo que isso é irracional, como se me desprendesse do meu corpo e visse uma coisinha sórdida e ridícula derramando um pranto inexplicável. Essa sou eu, e não me reconheço. Isso é extremamente inquietante. É uma aflição que beira a interrogação sobre o infinito. Esse limite entre razão e sentimento é o meu abismo; quando consigo, agarro-me a um galho e consigo frear um pouco minha queda. Mas, no momento, estou completamente abandonada, queda-livre em direção ao nada. Não sei onde será o [meu] fim.

4 comentários:

  1. "Não que eu não as sinta. É que elas já são parte de mim de tal maneira que aprendi a entendê-las com uma visão distinta, separada."

    Ainda tenho a mania de pegar fragmentos dos textos na hora de comentar, mas é que eles são quase que auto-explicativos. E este, no caso, é um dos conceitos mais perfeitos perante um sentimento que vive no âmago de um ser.

    Parabéns, May *-*.

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  2. desnecessárias seriam minhas palavras subrinhas; as explicações que elas tentariam passar.
    até por que, seriam inúteis.

    mas digo, apenas [e talvez novamente], que te entendo. talvez não plenamente, pela diferente natureza das situações, mas a essência é a mesma. tanta poesia e tanto sentimentalismo, que simplesmente dispertam as piores e melhores coisas em nós.
    tão inesperados.

    por fim,
    gosto de pensar que te entendo; por que percebo pelos seus textos algo muito comum em mim.
    e acho isso bom, até.
    sabe [..]
    saber que não está se surpreendendo com essas coisas sozinha.

    e assim, bem sabes, independente de qualquer coisa, nunca estará ;)

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  3. Eu te compreendo PERFEITAMENTE cara. Eu também sinto o mesmo, mas não vejo como parte de uma loucura, acho que é uma lucidez incomum pros nossos tempos. É como se um espelho completamente limpo me refletisse perfeitamente e eu tivesse completa noção do que acontece comigo e soubesse cada sentimento que tenho. Ah, não sei explicar, tô ouvindo Caju e Castanha e não consigo pensar ;/ IUHEOOAIUOIEAHUI

    Te amo May! ;**

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  4. Calma,a liberdade vem através da consciencia,que muitas vezes é dolorosa e demorada. Mas o final, mesmo que distante, é outorgadamente belo.Eu te amo.

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:)